sexta-feira, 4 de setembro de 2015

OS SOBREVIVENTES





Ainda era cedo, os raios de sol de um novo dia ainda não haviam surgido, mas era preciso começar logo a procura. O tempo era curto, o planeta terra era muito grande e a procura era por algo difícil de achar naquele momento. Sobreviventes.
Os registros apontavam a existência de apenas dois. Dois seres humanos. E pensar que poucos anos atrás eram bilhões. Mas hoje, depois dos ataques, restaram apenas dois. Um homem e uma mulher. Exatamente o que era preciso para recomeçar tudo. Recomeçar a repovoar o mundo. Por isso a responsabilidade de acha-los era grande. Eles não estavam juntos. Cada qual estava num ponto extremo do planeta, pelo menos era o que indicava o “scanner pluricelular homo sapiens” era como deram para chamar o aparelho usado por eles para achar os humanos. “Eles”. No início eram chamados de alienígenas. “Chegaram aos milhares em enormes naves. Ficaram parados por dois dias, suspensos no ar, há cerca de seiscentos metros de altura, em seguida, sem aviso, começaram a atacar, aleatoriamente, toda forma de vida que encontravam. Mas seu foco éramos nós, os humanos”. Esse é um trecho de um diário escrito e abandonado provavelmente por mais um dos que foram dizimados. Em poucas semanas, os bilhões foram reduzidos em milhões; em poucos meses os milhões passaram para apenas alguns milhares.
As armas conhecidas pelo homem eram inúteis contra eles. “Eles”; foi assim que passaram a ser chamados os alienígenas. Eles estão atacando, Eles estão vindo novamente, Eles vão nos exterminar. Quando os líderes mundiais decidiram, em medida desesperada, e por isso, desastrada, disparar amas nucleares contras Eles, o resultados foi a morte de mais humanos. E Eles pareciam não ter pena, cansaço ou limites. Parecia que, enquanto não exterminassem até o último ser vivo, não se contentariam.
Homens, mulheres, crianças, velhos, animais, vegetais. Toda forma de vida era exterminada. A começar pelo homem.
Quando o mundo se resumiu à algumas centenas de pessoas, entocadas em buracos e esconderijos difíceis de serem encontradas pelo mundo, entrou em cena esse aparelho, o “scanner pluricelular homo sapiens”, foi assim que as pessoas se referiam a eles. Eram aparelhos próprios para encontrar seres humanos, para que fossem exterminados. E os operadores desses aparelhos eram chamados de Caça-Humanos, alienígenas enviados exclusivamente para encontrar e eliminar humanos.
É um desses aparelhos que agora vai ser usado para encontrar os últimos dois seres da espécie na terra. O aparelho diz que restam dois deles.
Toda uma história destruída. Destruíram até os livros. Pareciam querer acabar com qualquer vestígio da passagem do homem pelo planeta terra.
Apenas dois seres humanos.
Parecia o fim. Mas também era ainda uma chance. Um homem e uma mulher. Espermatozoides e óvulos. Com apenas isso tudo poderia ser reconstruído. Essa era a esperança. E esse scanner era o responsável por tornar possível o rastreamento de ambos.
Uma dessas pessoas estava no Nepal.
Chegar até esse ser vivo, esse ser humano, essa meia-esperança da raça humana, não seria difícil. Havia máquinas monomotoras alienígenas capazes dobrar a velocidade do som. 600 quilômetros por segundo. Havia milhares dessas máquinas espalhadas pelo mundo. “Eles” haviam deixado espalhadas naves, armas e veículos de tecnologia avançada na terra. Tudo levava a crer que aqui, a terra, agora era sua base de operações nesse sistema solar.
Nesse monomotor, o tempo de chegada ao Nepal seria de poucos minutos.
As pessoas acreditavam que os Caça-Humanos eram espécies diferentes de alienígenas. Diziam que era preciso ser diferente para fazer o que faziam. Caçar humanos não era tarefa fácil; para achar um humano escondido, era preciso pensar como um humano, por vezes até agir como um humano. Esse era o melhor modo de eliminar um humano com mais eficiência.
Mas aquilo era só especulação. Os Caça-Humanos eram frios e perversos como qualquer outro alienígena. O seu intuito era o mesmo dos outros: destruir toda forma de vida do planeta.
Menos de uma hora e o destino fora alcançado. Nepal.
Havia uma montanha entre tantas outras. Nela fora cavado um túnel de mais de trezentos metros de profundidade, feito por mãos humanas. Esse túnel dava para um minúsculo esconderijo. Um verdadeiro esforço braçal para tentar escapar do predador implacável. Não foi fácil encontrar o túnel, mas o “scanner pluricelular homo sapiens” fez o trabalho mais difícil.
No esconderijo havia o cheiro que se tornara peculiar naqueles dias. O cheiro de gente morta, em decomposição, apodrecendo. Quem não morria pelas armas avançadas dos alienígenas, acabava sucumbindo à fome, às doenças e ao desespero de não querer ver-se pego por “Eles” e acabava surtando e matando os outros e a si mesmo.
Avançando um pouco mais para dentro do esconderijo, logo se encontrou o que tanto se procurava. Ela. Uma mulher, um ser humano. A esperança. Era jovem, não devia ter mais de trinta anos; estava bem magra, suja, assustada, trêmula. Sozinha; os olhos denunciavam a desesperança de quem se vê sem saída.
Aquela mulher representava a possibilidade de resistência, de sobrevivência de toda uma espécie. Se ela resistisse, poderia acabar com o plano de destruição que “Eles” vieram por em prática nesse planeta.
Ela marejou os olhos, ia dizer algo, mas não teve tempo. A arma de plasma foi apontada e disparada contra ela, que se desintegrou instantaneamente.
Agora só faltava um. Um único ser humano. Ele observou a arma e pouco a pouco sentiu seus músculos se apertando para ergue-la até sua tempora.
Os alienígenas tinham assumido a melhor das técnicas para encontrar os humanos sobreviventes. Lavagem cerebral nos melhores caçadores, até que eles se tornassem máquinas vivas, prontos para exterminar a própria raça até o último deles. Ele engoliu a seco e sentiu seu corpo esfriar, conforme pressionava o gatilho.
Até o último.

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