Ainda era
cedo, os raios de sol de um novo dia ainda não haviam surgido, mas era preciso
começar logo a procura. O tempo era curto, o planeta terra era muito grande e a
procura era por algo difícil de achar naquele momento. Sobreviventes.
Os registros
apontavam a existência de apenas dois. Dois seres humanos. E pensar que poucos
anos atrás eram bilhões. Mas hoje, depois dos ataques, restaram apenas dois. Um
homem e uma mulher. Exatamente o que era preciso para recomeçar tudo. Recomeçar
a repovoar o mundo. Por isso a responsabilidade de acha-los era grande. Eles
não estavam juntos. Cada qual estava num ponto extremo do planeta, pelo menos
era o que indicava o “scanner pluricelular homo sapiens” era como deram para
chamar o aparelho usado por eles para achar os humanos. “Eles”. No início eram
chamados de alienígenas. “Chegaram aos milhares em enormes naves. Ficaram
parados por dois dias, suspensos no ar, há cerca de seiscentos metros de
altura, em seguida, sem aviso, começaram a atacar, aleatoriamente, toda forma
de vida que encontravam. Mas seu foco éramos nós, os humanos”. Esse é um trecho
de um diário escrito e abandonado provavelmente por mais um dos que foram
dizimados. Em poucas semanas, os bilhões foram reduzidos em milhões; em poucos
meses os milhões passaram para apenas alguns milhares.
As armas
conhecidas pelo homem eram inúteis contra eles. “Eles”; foi assim que passaram
a ser chamados os alienígenas. Eles estão atacando, Eles estão vindo novamente,
Eles vão nos exterminar. Quando os líderes mundiais decidiram, em medida
desesperada, e por isso, desastrada, disparar amas nucleares contras Eles, o
resultados foi a morte de mais humanos. E Eles pareciam não ter pena, cansaço
ou limites. Parecia que, enquanto não exterminassem até o último ser vivo, não
se contentariam.
Homens,
mulheres, crianças, velhos, animais, vegetais. Toda forma de vida era
exterminada. A começar pelo homem.
Quando o mundo
se resumiu à algumas centenas de pessoas, entocadas em buracos e esconderijos
difíceis de serem encontradas pelo mundo, entrou em cena esse aparelho, o
“scanner pluricelular homo sapiens”, foi assim que as pessoas se referiam a
eles. Eram aparelhos próprios para encontrar seres humanos, para que fossem
exterminados. E os operadores desses aparelhos eram chamados de Caça-Humanos,
alienígenas enviados exclusivamente para encontrar e eliminar humanos.
É um desses
aparelhos que agora vai ser usado para encontrar os últimos dois seres da
espécie na terra. O aparelho diz que restam dois deles.
Toda uma
história destruída. Destruíram até os livros. Pareciam querer acabar com
qualquer vestígio da passagem do homem pelo planeta terra.
Apenas dois
seres humanos.
Parecia o fim.
Mas também era ainda uma chance. Um homem e uma mulher. Espermatozoides e
óvulos. Com apenas isso tudo poderia ser reconstruído. Essa era a esperança. E
esse scanner era o responsável por tornar possível o rastreamento de ambos.
Uma dessas
pessoas estava no Nepal.
Chegar até
esse ser vivo, esse ser humano, essa meia-esperança da raça humana, não seria
difícil. Havia máquinas monomotoras alienígenas capazes dobrar a velocidade do
som. 600 quilômetros por segundo. Havia milhares dessas máquinas espalhadas
pelo mundo. “Eles” haviam deixado espalhadas naves, armas e veículos de
tecnologia avançada na terra. Tudo levava a crer que aqui, a terra, agora era
sua base de operações nesse sistema solar.
Nesse
monomotor, o tempo de chegada ao Nepal seria de poucos minutos.
As pessoas
acreditavam que os Caça-Humanos eram espécies diferentes de alienígenas. Diziam
que era preciso ser diferente para fazer o que faziam. Caçar humanos não era
tarefa fácil; para achar um humano escondido, era preciso pensar como um
humano, por vezes até agir como um humano. Esse era o melhor modo de eliminar
um humano com mais eficiência.
Mas aquilo era
só especulação. Os Caça-Humanos eram frios e perversos como qualquer outro
alienígena. O seu intuito era o mesmo dos outros: destruir toda forma de vida
do planeta.
Menos de uma
hora e o destino fora alcançado. Nepal.
Havia uma
montanha entre tantas outras. Nela fora cavado um túnel de mais de trezentos
metros de profundidade, feito por mãos humanas. Esse túnel dava para um
minúsculo esconderijo. Um verdadeiro esforço braçal para tentar escapar do predador
implacável. Não foi fácil encontrar o túnel, mas o “scanner pluricelular homo
sapiens” fez o trabalho mais difícil.
No esconderijo
havia o cheiro que se tornara peculiar naqueles dias. O cheiro de gente morta,
em decomposição, apodrecendo. Quem não morria pelas armas avançadas dos
alienígenas, acabava sucumbindo à fome, às doenças e ao desespero de não querer
ver-se pego por “Eles” e acabava surtando e matando os outros e a si mesmo.
Avançando um
pouco mais para dentro do esconderijo, logo se encontrou o que tanto se
procurava. Ela. Uma mulher, um ser humano. A esperança. Era jovem, não devia ter
mais de trinta anos; estava bem magra, suja, assustada, trêmula. Sozinha; os
olhos denunciavam a desesperança de quem se vê sem saída.
Aquela mulher representava
a possibilidade de resistência, de sobrevivência de toda uma espécie. Se ela
resistisse, poderia acabar com o plano de destruição que “Eles” vieram por em
prática nesse planeta.
Ela marejou os
olhos, ia dizer algo, mas não teve tempo. A arma de plasma foi apontada e
disparada contra ela, que se desintegrou instantaneamente.
Agora só
faltava um. Um único ser humano. Ele observou a arma e pouco a pouco sentiu
seus músculos se apertando para ergue-la até sua tempora.
Os alienígenas
tinham assumido a melhor das técnicas para encontrar os humanos sobreviventes.
Lavagem cerebral nos melhores caçadores, até que eles se tornassem máquinas
vivas, prontos para exterminar a própria raça até o último deles. Ele engoliu a
seco e sentiu seu corpo esfriar, conforme pressionava o gatilho.
Até o último.
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